Por Mayssa da Conceição Araújo e Andréa Mathes Faustino

15/11/2019

 

 

 


 

 

Segundo a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), a demência é “caracterizada por prejuízo cognitivo que pode incluir alterações de memória, desorientação em relação ao tempo e ao espaço, raciocínio, concentração, aprendizado, realização de tarefas complexas, julgamento, linguagem e habilidades visuais-espaciais.” Podendo ser acompanhada por modificações no comportamento ou na personalidade da pessoa, além de alteração no humor. 

 

Existem diferentes tipos de demências, algumas são reversíveis (tem cura) e outras são progressivas (avançam com o passar do tempo). Chama-se de demências reversíveis aqueles casos onde o tratamento adequado da causa pode reverter o declínio cognitivo. Por exemplo, deficiência de vitamina B12 e hipotireoidismo podem causar perda de memória. Se você tratar a causa o quadro de perda de memória regride.

 

Vale ressaltar que uma pessoa pode apresentar alguns sintomas de demência ou todos eles. Em relação às demências progressivas (que não regridem porque ainda não há tratamento para a cura - os que existem são para controle de alguns sintomas), ao longo dos anos podem surgir novos sintomas ou ocorrer uma piora daqueles já existentes. 

 

A seguir iremos falar um pouco sobre alguns tipos de demências progressivas e suas características.

 

  • Principais tipos de demências progressivas e suas características

 

Doença de Alzheimer (DA): é o tipo de demência mais prevalente, corresponde a cerca de 60% de todas as demências. Acredita-se que o depósito, o acúmulo de uma substância chamada de amilóide seja responsável pelo surgimento da DA. O acúmulo dessa substância formam placas amiloides no tecido cerebral e provocam a morte de algumas células. Possui início insidioso (que parece benigno, mas pode ser ou tornar-se grave e perigoso com o passar do tempo) e deterioração progressiva (piora do quadro). A perda de memória normalmente é o primeiro sintoma a aparecer; e é o que acende uma luz de alerta para que os familiares, ou a própria pessoa com perda de memória, procure atendimento médico. Inicialmente, a pessoa pode apresentar perda de memória esporádica e dificuldade para aprender novas coisas. Com o passar do tempo (meses ou anos) outras funções cognitivas podem sofrer prejuízos, tais como julgamento, cálculo, habilidades visuo-espaciais. Nos estágios intermediários da DA, a pessoa pode apresentar dificuldade para encontrar as palavras certas para expressar suas ideias. E nos estágios mais avançados, alterações do ciclo sono-vigília (trocar a noite pelo dia), incapacidade para realizar cuidados pessoais e alterações comportamentais e de humor (irritado, agressivo, choroso, alucinações - ver coisas, ouvir vozes) podem estar presentes. Atualmente o seu diagnóstico se dá por probabilidade, ou seja, o quadro que a pessoa apresenta (sinais e sintomas) são muito característicos da DA. O diagnóstico definitivo, aquele com 100% de certeza, só é possível após a morte, quando é feito um exame histopatológico do tecido cerebral (pegam um pedaço do cérebro e analisam ele no microscópio).

  

Demência Vascular (DV): representa a segunda maior causa de demência. Possui início súbito. As manifestações clínicas da DV dependem da localização e do número de lesões vasculares no tecido cerebral. Cada parte do nosso cérebro é responsável por determinada função. Então, a depender do local da lesão vascular, a pessoa pode apresentar dificuldades na fala, comprometimento de memória/funcional, prejuízo da atenção, sintomas parkinsonianos, anormalidades da marcha, dentre outros. Essas lesões vasculares cerebrais podem ser resultado de infartos silenciosos (a pessoa não apresenta sinais e sintomas que está tendo/teve um infarto) e acidentes vasculares cerebral (AVC). São fatores de risco: hipertensão arterial (pressão alta), diabetes mellitus descontrolado, colesterol alto, já ter dito AVC, tabagismo, trombose, etc. Para o diagnóstico da DV, além do diagnóstico clínico (baseado no histórico/sinais/sintomas), nos exames de imagem (tomografia computadorizada ou ressonância magnética) devem haver evidências de doença cerebrovascular, ou seja, devem ser visíveis lesões vasculares no tecido cerebral ou em alguma de suas estruturas. Pode acontecer de uma mesma pessoa possuir a DV e a DA, levando a uma dificuldade diagnóstica.  

 

Demência Fronto-temporal (DFT): Representa 10 a 20% dos casos de demência. Atinge pessoas mais jovens, principalmente após os 40 anos de idade. Possui elevada incidência familiar. Na DFT ocorre a deterioração mental progressiva (encolhimento) de certas partes do cérebro, especialmente do lobo frontal e temporal, responsáveis, principalmente, pela inteligência, julgamento, comportamento e memória (veja a localização na imagem abaixo). 

 

 

Fonte: Google Imagens

 

O que mais chama atenção neste tipo de demência são as alterações comportamentais, seguido das alterações da personalidade e cognição. De acordo com a ABRAz, essas mudanças podem incluir: “desinibição, impulsividade, inquietação, perda do julgamento, oscilação emocional, apatia (quando a pessoa age com indiferença, insensível), desinteresse, perda de motivação, isolamento, sentimentalismo excessivo, hipocondria (quando a pessoa acha que tem um problema médico grave, mas na verdade não tem nada diagnosticado), comportamento exaltado, choro fácil, risos inadequados, irritabilidade, comentários sexuais inadequados, atos indecentes, comportamento muito inadequado como urinar em público, alterações importantes do hábito alimentar (por exemplo, preferência por doces), negligência da higiene pessoal… Ansiedade e depressão são comuns. O paciente pode apresentar atos violentos, comportamentos ruins que não apresentava antes da doença”. É fundamental que se conheça o histórico da pessoa antes da demência, como ela era. Pois só assim é possível saber se determinados comportamentos inadequados são alterações da demência ou se a pessoa sempre foi assim. Isso é primordial para o correto diagnóstico do tipo de demência. Assim como nas demências citadas anteriormente, o diagnóstico de certeza/definitivo da DFT só é possível pós-morte, quando são feitas análises histopatológicas do tecido cerebral. O diagnóstico de probabilidade, clínico, baseia-se na entrevista e nos exames complementares, dentre eles os de imagem, onde é possível visualizar atrofia (encolhimento) de certas partes do cérebro, especialmente, dos lobos frontais e/ou temporais.

 

Demência por Corpúsculos de Lewy (DCL): representa cerca de 20% dos casos de demências. Ela acontece quando há o acúmulo de proteínas anormais no cérebro, chamadas de corpúsculos/corpos de Lewy. Alguns sintomas que ajudam no diagnóstico clínico são: declínio cognitivo flutuante, podendo vir acompanhada por períodos de confusão; alucinações visuais; quedas frequentes; rigidez e bradicinesia (lentificação dos movimentos voluntários). Como na DA, na DCL só é possível comprovar com certeza o diagnóstico após a morte do indivíduo, quando são feitas análises patológicas e microscópicas do tecido cerebral, que permitem a identificação e a visualização dos corpúsculos/corpos de Lewy. 

 

Demência Mista (DM): Lembra quando eu falei que uma mesma pessoa pode ter a DA e a DV juntas? Pois então, quando isto acontece chamamos de DM. A pessoa apresenta alterações patológicas desses dois tipos de demência simultâneamente, ao mesmo tempo. Na maioria dos casos de DM, a pessoa tinha DA, mas de repente ela piora, rapidamente, e quando vão investigar descobre-se que ela apresentou sinais clássicos de uma pessoa que teve um AVC (derrame). 

 

  • Diagnóstico

Já falamos um pouco sobre isso nos tópicos anteriores, mas aqui iremos aprofundar um pouco mais. 

O diagnóstico de probabilidade da demência se dá por meio da avaliação clínica do indivíduo, onde se analisa seu desempenho cognitivo e funcional. O desempenho cognitivo pode ser avaliado através da aplicação de alguns testes, que podem ser em formato de entrevistas com perguntas específicas. Já o desempenho funcional é analisado através de uma entrevista com algum familiar da pessoa com suspeita de demência, onde se busca evidências de que o comprometimento cognitivo está impactando negativamente aquela pessoa na execução das atividades funcionais do dia a dia, tais como gerenciar as finanças, cozinhar, tomar banho sozinho, entre outras. 

O diagnóstico da causa da demência depende de uma investigação mais aprofundada, onde são realizados exames laboratoriais e de neuroimagem, como tomografia computadorizada ou ressonância magnética do cérebro. Em alguns casos específicos, outros exames podem ser indicados, como o exame do líquor (líquido que “banha” o cérebro e a medula espinhal). Vale ressaltar que o diagnóstico de certeza, na maioria dos casos de demência, só é possível após a morte do indivíduo, quando são realizadas análises histopatológicas do tecido cerebral (analisa-se pedaços do cérebro).

 

 

 

 

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